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segunda-feira, 14 de agosto de 2017

Secos & Molhados


Em plena ditadura militar, João Ricardo, Ney Matogrosso e Gerson Conrad deram novo ânimo e mudaram o curso das coisas da música brasileira.

Ainda sem o nome Secos & Molhados, João Ricardo já tocava e apresentava algumas canções em bares, mas faltava uma voz para interpretá-las. Então, graças a uma amiga em comum, João foi apresentado a Ney Matogrosso, dono de uma das vozes mais marcantes do Brasil em todos os tempos. Junto com Gerson Conrad, o trio deu nome ao grupo, e isso foi uma forma de tentar abranger ao máximo seu público.

Era impossível não prestar atenção neles. Com suas letras, sua maquiagem e na maneira como seu vocalista mexia-se no palco, rebolando e cantando, algo impensado naqueles tempos em que Emílio Garrastazu Médici era o presidente do Brasil durante a ditadura militar, período mais sombrio da história do Brasil. Isso fez que eles ganhassem cada vez mais atenção durante os shows – não apenas no vocalista, mas nas músicas.

Durante uma apresentação, o trio chamou a atenção do empresário Moracy do Val, que logo comaçou a agenciá-los e conseguiu, após insistir muito, um contrato com a Continental, grande gravadora do mercado e principal concorrente de empresas estrangeiras, como a Warner, para captar artistas em seu selo no início
dos anos 1970.

Como aposta da gravadora, o Secos & Molhados não recebeu grande verba para gravar o álbum, já que a Continental apostava no convencional, vamos colocar assim, não em um trio que misturava cantigas brasileiras com psicodelia e folk. Com João Ricardo na direção musical, Moracy também assumiu a responsabilidade de ser o produtor do disco. Em 15 dias, usando um gravador de quatro canais, o LP estava feito e levaria o nome da banda.

O Secos & Molhados tinha o que havia de melhor naquela época: músicos inspirados e canções do folclore brasileiro e português, algo bem interessante, mas que, no fundo, era pop e nascido para transcender limites no período pós-Jovem Guarda – um ano antes, os Novos Baianos lançaram Acabou Chorare, primeiro grande álbum brasileiro dos anos 1970.


Obviamente, é impossível não atestar a influência do Tropicalismo no trabalho e no trio. Se havia a vontade de transgredir nos anos 1960, e isso foi conseguido, os anos 1970 foram importantes para consolidar certas ideologias do movimento liderado por Caetano Veloso, Gilberto Gil, Mutantes e amigos.

Uma coisa ajudou bastante nas vendas de Secos & Molhados: uma aparição na primeira edição do Fantástico, revista eletrônica semanal da TV Globo. Diferente dos dias atuais, o programa tinha enorme relevância nacional e contribuía, e muito, no lançamento de vídeos de artistas. Era a explosão necessária para contribuir com o sucesso de um grupo diferente de tudo que tocava nas rádios e programas de TV naqueles tempos.

Ninguém confiava no sucesso do grupo. Por isso, apenas 1.500 cópias do trabalho foram colocadas à venda pela Continental, mas bastou uma aparição no Fantástico para uma mudança de cenário. Essa primeira prensagem não deu nem para o gasto, forçando o derretimento de LPs encalhados para uma segunda leva de Secos & Molhados. Foram vendidos 300 mil álbuns em dois meses, rapidamente transformados em um milhão no final de 1973. As vendas eram tão absurdas que até o reinado de Roberto Carlos, cantor que mais vendia à época, estava ameaçado.

Mais conhecidas, “O Vira” e “Sangue Latino” tocavam quase sem parar nas rádios. Mas não apenas as duas. Durante o dia, facilmente você conseguia ouvir o LP inteiro, e isso colaborou para colocar o Secos & Molhados na trilha do sucesso e lotando turnês não só no Brasil, mas por toda América Latina.

A capa foi produzida e fotografada por Antônio Carlos Rodrigues, fotógrafo do jornal carioca ‘Última Hora’ e mostra a banda, mais o baterista Marcelo Frias – único não maquiado –, com as cabeças em uma mesa. A seção de fotos foi marcante, pois eles demoraram uma madrugada inteira para fazer tudo. E dias depois, Farias abandonou o grupo.

Texto | Fagner Morais

1973 | SECOS & MOLHADOS

01. Sangue Latino
02. O Vira
03. O Patrão Nosso de Cada Dia
04. Amor
05. Primavera nos Dentes
06. Assim Assado
07. Mulher Barriguda
08. El Rey
09. Rosa de Hiroshima
10. Prece Cósmica
11. Rondo do Capitão
12. As Andorinhas
13. Fala

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