A Horse With No Name

cavalo

terça-feira, 14 de julho de 2015

Morphine


Morphine é uma banda alternativa de Massachussets. ‘Morphine’ é uma raridade. Em vez de riffs de guitarra, o trio conta com o vocal e o baixo de Mark Sandman, o saxofone de Dana Colley e a bateria de Billy Conway. ‘Morphine’ é representante do gênero ‘low rock’ lançado por Mark Sandman em 1980, que combina blues e elementos de jazz com os mais tradicionais arranjos de rock, dando à banda um som incomum.

1992 | GOOD | DOWNLOAD

A guitarra é, de fato, ausente, e o som é minimalista. No entanto, a revista ‘Rolling Stone’ descreve o som como ‘um blues urbano dos anos cinquenta de Muddy Waters e John Lee Hooker e uma dose saudável de rockabilly’. A primeira banda de ‘low rock’ foi ‘Hypnosonics’ composta por Sandman e os saxofonistas Russ Gershon e Dana Colley.

Outra banda pioneira do ‘low rock’ foi ‘Treat Her Right’, também composta por Sandman. Mas, foi ‘Morphine’ que definiu o gênero.

1993 - CURE FOR PAIN | DOWNLOAD

Durante os anos 90, ‘Morphine’ foi consideravelmente cultuada nos Estados Unidos com críticas positivas. Formada por Mark Sandman, que já havia tocado com a banda de rock alternativo ‘Treat Her Right’, e Dana Colley membro do grupo de Boston ‘Three Colors’ e o baterista Jerome Dupree, o grupo lançou seu álbum de estréia, ‘Good’, em 1992, por uma etiqueta independente.

1995 - OPHIUM | DOWNLOAD

Mark Sandman desde o primeiro álbum causou estranheza, mas, principalmente, manifestações de admiração por parte da crítica. Na ‘Treat Her Right’, Sandman tocava uma guitarra convencional de seis cordas, mas através de um pedal de efeitos o som do instrumento parecia mais como um baixo.


1995 - YES | DOWNLOAD

Em ‘Morphine’ ele mudou para um baixo convencional, e todas as notas que ele precisava para tocar estavam em uma única corda. Tempos depois ele tocava um contrabaixo de duas cordas como uma guitarra slide. Mais tarde, ele acrescentaria uma terceira.



1997 - LIKE SWIMMING | DOWNLOAD

Após o lançamento do álbum, ‘Good’, Dupree deixou a banda e foi substituído por Billy Conway, que já havia tocado com Sandman no ‘Treat Her Right’. O segundo álbum, ‘Cure for Pain’, com uma extensa turnê americana e européia vendeu mais de 300.000 cópias, um feito impressionante para um lançamento independente.


1997 - B-SIDES AND OTHERWISE | DOWNLOAD

Em 1995, ‘Morphine’ lançou seu terceiro álbum, ‘Yes’, que também recebeu críticas favoráveis e ajudou a banda a manter o seu status de cult. Utilizando uma linha musical incomum, mais próxima do jazz, os álbuns de ‘Morphine’ têm uma intensidade e um peso notáveis, sempre ancorados na sonoridade incomum do baixo de Sandman e no virtuosismo de Colley que, em alguns momentos, a exemplo de Roland Kirk, tocava dois saxes ao mesmo tempo.

2000 - BOOTLEG DETROIT | DOWNLOAD

Como o nome da banda sugere, o efeito é desorientador, e é totalmente viciante. Ouvir uma música de ‘Morphine’ é ouvir algo que está bastante afastado do pop e do rock. Além de ‘low rock’ o som de ‘Morphine’ às vezes é chamado de ‘beat noir’ em referência ao seu jazzy que nos faz sentir estar em um bar enfumaçado e cheio de intrigas.


2000 - THE NIGHT | DOWNLOAD

Sandman chegou a morar muitos anos no Brasil, entre Pernambuco e Rio de Janeiro, e dizia-se grande admirador da música brasileira. Em 3 de julho de 1999, Sandman desabou no palco durante uma apresentação em Roma, morrendo de um ataque cardíaco aos 47 anos de idade.


2003 - THE BEST OF MORPHINE 1992-1995 | DOWNLOAD

Mark Sandman estava especialmente empolgado, pois havia decidido, finalmente, incorporar mais uma corda ao seu baixo. A apresentação foi postumamente lançada no início do ano seguinte e ao vivo no disco ‘Bootleg Detroit’. O álbum ‘The Night’ foi terminado dias antes de Sandman desabar no palco e ser declarado morto à chegada em um hospital local.


2004 - SANDBOX: MARK SANDMAN ORIGINAL MUSIC
DOWNLOAD | Pt. 1 | Pt. 2 | Pt. 3

‘The Night’ parece um epitáfio apropriado. Teclados, violino, violoncelo e contrabaixo, guitarras acústicas e elétricas são reproduzidos no álbum. O baterista Deupree está de volta, e toca em conjunto com Conway. ‘The Night’ pode ter sido a obra final de Mark Sandman, mas não foi a última palavra sobre seu legado.

2009 - AT YOUR SERVICE | DOWNLOAD

No final de 1999, os membros sobreviventes de ‘Morphine’, Conway, Colley, e Deupree formaram o ‘Morphine Orchestra’, uma big band que percorreu o país, tocando a música de Sandman.



Texto retirado de | Pintando Música

quarta-feira, 8 de julho de 2015

Cream


Durante um período, mais precisamente na época conhecida pela expressão inglesa “late 60’s early 70’s”, se alguém mencionasse o termo supergrupo, certamente estaria se referido ao Cream. Claro que com o passar dos anos e com a reunião de diversos grandes nomes em outros grupos, essa definição foi aplicada também à várias outras bandas. Mas com o Cream podemos é um pouco diferente, já que a definição provavelmente surgiu por causa deles mesmo. O próprio nome da banda já ajudava a determinar essa idéia de supergupo, afinal os caras se achavam, e o público assentia, o creme de la creme, a nata, o suprasumo do mundo da música. E de certa forma eles não estavam errados.Jack Bruce e Ginger Baker tinham o respeitável título de ex-Graham Bond Organization. Para quem sabe o que era o grupo liderado pelo gordinho Bond sabe que isso é algo grandioso. Bruce também tinha feito parte do Manfred Mann. Já Eric Clapton era “só” chamado de Deus nessa época e já tinha passado por Yardbirds e John Mayall’s Bluesbreakers.

1992 | THE ALTERNATIVE ALBUM 1966-1967 | DOWNLOAD

A ideia dos membros quando se juntaram, segundo o próprio Clapton, era usar o blues de raiz e levá-lo até um novo tipo de música pop com a ambiciosa intenção de fazer um estilo que ninguém tinha feito antes. Se eles conseguiram tudo isso ou não cabe o leitor dizer no final desse texto. O certo é que o Cream foi sinônimo de pirotecnia musical (ótima definição de Bento Araújo da Poeira Zine) em sua época, foi muito relevante e fez história gravando em cerca de três anos um material de tanta relevância que muitas bandas tentaram, e muitas ainda tentam, por anos, anos e anos.

Por | Fernando Bueno

1966 | FRESH CREAM | DOWNLOAD

Como já citado acima o Cream era basicamente um grupo de blues tocando rock e para deixar isso bem claro nada menos do que quatro das onze faixas do álbum são versões de grandes nomes do blues como Willie Dixon, Robert Jonhson, Muddy Waters e Skip James. Notamos que o encontro de músicos especialistas em seus instrumentos afetava até mesmo as letras que eram um pouco trabalhadas. Notem quantas músicas que foram feitas com apenas algumas frases, “I’m So Glad”é um ótimo exemplo. Porém mesmo com letras pobres tínhamos ótimas melodias vocais com é o caso do início de “I Feel Free” e “N. S. U.”. O primeiro single foi exatamente “I Feel Free” e o curioso é que mesmo uma música relativamente curta (2:45) foi considerada longa por um DJ de uma rádio novaiorquina que ajudou os caras no início. Tirando as versões, as outras músicas foram todas compostas por Jack Bruce sozinho ou em parceria com outros músicos. Apenas “Toad” foge à regra já que a faixa nada mais é do que um longo (alguém aí pensou desnecessário?) solo de Ginger Baker. Muitos comentam este ser um dos primeiros solos de bateria gravado por uma banda de rock. “Sleepy Time Time” é um blues composto por Bruce que faria inveja à qualquer músico do auge da Chees Records. Em “Dreaming” todas as vozes se juntam para fazer uma belíssima composição. As versões ficaram ótimas em especial “Spoonful” com a gaita fazendo o papel principal. Para finalizar uma pergunta: só eu que acho o Jack Bruce parecidíssimo com o Greg Lake nessa foto da capa?

1967 | DISRAELI GEARS | DOWNLOAD

Pergunte para dez pessoas qual é o melhor disco do Cream e nove delas responderá Disraeli Gears. O blues rock do grupo continua intacto, mas agora temos a adição de um timbre de guitarra mais ácido. O disco foi lançado em novembro, poucos meses depois da real data planejada para o lançamento. A causa disso foi que a gravadora decidiu mudar a capa de última hora e o resultado final demorou um pouco mais do que o esperado. A intenção da gravadora com essa capa multicolorida era ligar a banda ao movimento psicodélico que estava em seu auge nesse ano. Claro que musicalmente o disco já estava ligado à esse movimento, assim a capa foi para deixar isso claro e aproveitar o sucesso. As guitarras após o refrão de “Dance the Night Away” parece ter saído de um disco do Pink Floyd da época de Syd Barret. Outra que me lembra muito do Diamante Louco, mas nesse caso dos seus discos solos, é “Blue Condition”. O maior hit da banda, “Sunshine of Your Love”, é a segunda faixa do álbum e é obviamente um dos seus destaques. Mas não posso deixar de citar “Strange Brew” que faz você cantarolar sua melodia por muito tempo depois do álbum acabar. Jack Bruce detona tanto na voz quanto no baixo em “Tales of Brave Ulisses” e em “Swlabr”. Eric Clapton já contribuiu muito mais para o resultado do álbum do que fez (ou não fez?) para o primeiro. Em sua biografia ele conta que Sgt Peppers Lonely Hearts Club Band foi muito importante para o resultado final de Disraeli Gears, pelo menos para ele. Ele também menciona que o lançamento de Are You Experienced? por Jimi Hendrix ofuscou o disco deles porque todo mundo queria ouvir o americano. Lembra das músicas dos filmes do Monthy Python? É o que temos em “Mother’s Lament”, canção tradicional da cultura inglesa arranjada pela banda. Disco essencial em toda prateleira rockeira.

1968 | WHEELS OF FIRE | DOWNLOAD

Com o lançamento de Wheels of Fire e os shows que o promoveram principalmente nos Estados Unidos o Cream já estava sendo comparado aos Beatles e The Who. Como já haviam feito no álbum anterior eles alargaram as fronteiras musicais novamente. Alguns instrumentos foram gravados por Feliz Pappalardi, produtor da banda e que no futuro iria fazer parte do Mountain. Eles ainda se baseiam na forma estrutura do blues, mas também flertam com o jazz. Basta notar que o andamento de algumas faixas já são diferentes dos que nos acostumamos à ouvir nos dois álbuns anteriores. A abertura com “White Room”, uma das melhores faixas da banda, já ganha o ouvinte e mesmo se tudo o que viesse depois não fosse bom ninguém se importaria. Falo isso porque existem músicas abaixo da crítica nesse álbum. Duas delas eu ouço porque não costumo passar músicas e gosto de ouvir o álbum todo: “Pressed Rat and Warthog” e “Politician”, mesmo essa última sendo lembrada sempre em shows. Falando em shows, o segundo disco com as quatro músicas ao vivo é difícil de classificar. Que a banda era fantástica de se ver ao vivo não há dúvida, mas será que isso fica tão legal assim em um disco? “Croosroads”, de Robert Jonhson, tem uma versão ótima e para mim definitiva. As conhecidas, e longuíssimas, jams que a banda levava ao vivo tem alguns exemplo aqui. É até interessante ouvir “Spoonful” já que todos têm a chance de aparecer, mas não dá para entender a necessidade de um solo de 10 minutos de bateria, em “Toad”, fazer parte de um disco ao vivo que tem apenas 4 faixas.

1969 | GOODBYE | DOWNLOAD

Não citei os casos de drogas e das intermináveis brigas internas que eles tinham dentro da banda já que o foco aqui é analisar e comentar os álbuns. Porém quem pegar Goodbye sem saber dessas histórias vai se enganar pela aparente alegria apresentada na foto da capa e não vai entender porque um disco oficial tem apenas três músicas e mais três músicas gravadas ao vivo. E a resposta é que o grupo decidiu se separar e lançar a raspa do tacho das músicas que tinham e como não eram tantas incluíram algumas gravações ao vivo. Das três a que mais se destaca é “Badge”, uma parceria de Clapton com o amigo (e sócio?) George Harrison. “Doing That Scrapyard Thing”, que parece ter saído do Ogdens’ Nuts Gone Flake do Small Faces, é mais uma das diversas parcerias entre Jack Bruce e o letrista e poeta Pete Brown durante toda a carreira do Cream. Já “What A Bringdown” se não é uma canção muito lembrada da discografia do Cream faz valer a pena em adquirir um disco com apenas três faixas inéditas. Das músicas ao vivo tanto “I’m So Glad” quanto “Sitting on The Top of the World” são boas performances. Porém “Politician” não consegue a minha atenção nem em estúdio em Wheels of Fire nem ao vivo em Goodbye. Clapton diz que na época ele conheceu o The Band e seu fantástico álbum Music From Big Pink. Ele diz que ouviu o grupo e pensou “ali está uma banda que faz a coisa certa”. No fim quem segurou um pouco as pontas foi Stigwood, empresário da banda, que começou a receber ligações diárias de Clapton em que dizei “me tire daqui por favor” e ele respondia “fique mais uma semana”, até não ter jeito e a banda acabar de vez.

1970 | LIVE CREAM
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Após o fim da banda a gravadora ainda soltou dois discos ao vivo nos anos seguintes: Live Cream (1970) e Live Cream Volume II (1972). Cada um dos integrantes seguiria seu caminho separados se não fosse o encontro que Ginger Baker teve com Eric Clapton justamente quando ele estava prestes a formar o Blind Faith com Steve Winwood. Baker acabou entrando na barca.

1972 | LIVE CREAM II
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Com o fim do Blind Faith Clapton montou o Derek and the Dominoes e depois seguiu uma carreira solo de sucesso. Ginger Baker montou o Ginger Baker’s Airforce com uma seleção fantástica de músicos. Jack Bruce participou de outro super grupo o West, Bruce and Laing e depois também seguiu uma subestimada carreira solo.

2003 | BBC SESSIONS
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Em 2003 saiu um álbum com o nome de BBC Sessions que muitos outros artistas já fizeram parecido. Particulamente acho esse CD bem interessante para quem quer ter a discografia de estúdio e mais alguma coisa da banda.

2005 | LIVE AT ROYAL ALBERT HALL
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Em 2005 uma reunião de pouco shows do Cream ocorreu e aconteceu no famosíssimo Robert Albert Hall e também é material que vale muito a pena ter na sua prateleira de discos.

sexta-feira, 3 de julho de 2015

Tropicália ou Panis et Circensis


"A música não existe (...). Sei que alguma coisa nova se cria a partir daí e o resto não me interessa" (Rogério Duprat). "Ê bumba-iê-iê-boi" (Gilberto Gil & Torquato Neto). "Nara - Pois é... e o Ernesto Nazaré e Chiquinha Gonzaga... e Pixinguinha... Os Mutantes - Pois é... e os Jefferson's Airplane (sic) e os Mamas & the Papas... e..."

Maio de 68. Vietnã. Barricadas em Paris. Passeata dos cem mil, Rio de Janeiro. Primavera de Praga. Marthin Luther King. Flower power, 2001 - Uma Odisséia no Espaço, de Stanley Kubrick. AI-5. Panteras Negras. Arte pop. Crimes, espaçonaves guerrilhas.

Não são absolutamente memórias pessoais. Fragmentos da iconografia da época. O primeiro passo quando a tarefa é falar de alguma obra emblemática de uma época (sobretudo se você não esteve lá) é pesquisar todo o material disponível para reconstituir o clima e os acontecimentos que foram desaguar naquele produto em particular. Mas um disco-manifesto como Tropicália ou Panis et Circencis fala por si só. E o que ele fala?

A capa apresenta os atores do carnaval tropicalista. Os Mutantes e suas guitarras elétricas. Tom Zé, Caetano com Nara Leão (os mais belos joelhos da bossa nova) no colo (numa fotografia). O Maestro Rogério Duprat prestando uma homenagem a Marcel Duchamp (que havia falecido em 1967). Gal Costa com uma foto de Capinam. Torquato Neto (poeta e suicida). A contracapa descreve o roteiro e inscreve a data lendária: maio de 68. Os padrinhos despejam suas benções: Augusto de Campos e João Gilberto.

Tropicália ou Panis et Circencis era para ser o manifesto tropicalista. Vinte anos depois é um documento histórico. Se a música não existia mais, era preciso romper com as camisas de força que regiam a música popular, as falsas dicotomias, participação popular versus invenção, local versus universal. Vicente Celestino se encontra com os Beatles. O tropicalismo, como um momento de efervescência cultural, comunica-se diretamente com o modernismo da Semana de 1922. E dá-lhe antropofagia: as referências de parentesco são explícitas e encaixadas em contextos novos.


A qualidade documental da tropicália não o transforma num disco datado. Uma colagem mantida unida com o cola-tudo privilegiado das musicalidades de Caetano Veloso e Gilberto Gil. A pérola do brega, "Coração Materno", é de Vicente Celestino. O beguin "Três Caravelas" ("um navegante atrevido saiu de Palos um dia / ia com três caravelas / a Pinta, a Nina e a Santa Maria") é uma versão de João de Barro, e a nota regionalista, "Hino ao Senhor do Bonfim da Bahia", que fecha com tom épico o LP, é de João Antônio Wanderley.

O humor é, sem dúvida, um conservante poderoso. "Lindonéia", um bolero na voz extra-suave de Nara, anuncia que há "cachorros mortos nas ruas / policiais vigiando / o sol batendo nas frutas / sangrando, oh, meu amor, a solidão vai me matar de dor". Os primeiros acordes de "A Internacional" servem como arauto a Caetano convidando a um passeio nos Estados Unidos do Brasil, "debaixo das bombas / das bandeiras / debaixo das botas / debaixo das rosas dos jardins / debaixo da lama / debaixo da cama". Em "Parque Industrial", o céu de anil e as bandeirolas saúdam o avanço industrial.

Rogério Duprat orquestrou esses estilhaços de modernidade com todos os ritmos, instrumentos, ruídos e técnicas que estavam à mão. Em vez do violão e voz da bossa nova, aqui entram sirenes, distorção de guitarra, efeitos de estúdio, canhões (enquanto Gil rima Brasil e fuzil, com todas as letras) e órgão de igreja. Os metais pontuam ora o violão, ora a guitarra e o baixo, criando texturas distintas de sons.

A geléia geral brasileira teve sua polaróide, em sons e imagens, nítida e multifacetada.

Texto | Bia Abramo, Bizz#041, dezembro de 1988 | Collectors Room

1968 | TROPICÁLIA OU PANIS ET CIRCENSIS

01. Gilberto Gil | Miserere Nóbis
02. Caetano Veloso | Coração Materno
03. Os Mutantes | Panis et Circensis
04. Nara Leão | Lindonéia
05. Gal Costa, Gilberto Gil, Os Mutantes & Caetano Veloso | Parque Industrial
06. Gilberto Gil | Geléia Geral
07. Gal Costa & Caetano Veloso | Baby
08. Gilberto Gil & Caetano Veloso | Três Caravelas [Las Três Carabelas]
09. Caetano Veloso | Enquanto Seu Lobo não Vem
10. Gal Costa | Mamãe, Coragem
11. Gilberto Gil | Bat Macumba
12. Gal Costa, Gilberto Gil, Os Mutantes & Caetano Veloso | Hino do Senhor do Bom Fim

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